10 de dezembro de 2005

Fevereiro de 2005

fevereiro 01, 2005

ASSEMBLEIA GERAL “COMENSAL” DO NÚCLEO DE VETERANOS DA U D V -

Sábado, 29 de Janeiro – 2005


Foi na cozinha “especial” da casa de António Simões e Dª Iolanda

O local é perfeito. Está agora forrado a madeira o tecto da vasta cozinha e “sala de jantar” do primitivo “pátio” há dois anos recuperado e adaptado. Portanto, obra completada. Aconchegante. Há uma lareira de chão, um fogão a lenha, outro a gás. Um grelhador a lenha. A garrafeira e a dispensa são anexas… Depois, a casa fica no Fundo do Povo, quase isolada. Está-se lá à vontade. Ora que Deus Nosso Senhor e a Santa Margarida por cá guardem o António Simões, a D.ª Iolanda, as filhas, genro(s) e netos ( já há uma neta), cheios de saúde e ainda mais de paciência, por muitos e bons anos!

A Jantarada de 29 de Janeiro foi preparada desde a véspera…

Bom, “a função” de dia 29 de Janeiro começou por volta das 17 horas, com os últimos preparativos para a jantarada. Entretanto, na véspera, já se tinha preparado a perdiz e os coelhos ( de caça) que seriam o “aperitivo”. Os “ossos” de porco – prato essencial -- também já tinham sido postos a descongelar. Saliente-se que esses “ossos” já estavam destinados, e postos no frio, desde finais de Setembro passado, provenientes da porca que, nessa altura, foi “glorificada” para servir no convívio com “nuestros hermanos” e com os Veteranos do Sporting Club de Portugal.

O grã-mestre em cozinha tradicional, António Simões –– aliás acabadinho de chegar de uma caçada ao javali ( “desgraçadamente” infrutífera…) --, tomou conta das operações culinárias pelas 17 horas. Assim, bem assessorado pela esposa, D.ª Iolanda, pelas filhas e genro e por mais dois ou três membros do Núcleo de Veteranos, depressa pôs a funcionar, em pleno, os fogões, a lareira, o grelhador, a mão e o paladar...

Foram aperitivos, uma perdiz frita… e coelhos “à bruxa”… O branco era forte mas suave como veludo. Trepador…

A partir das 18 horas, concentraram-se os convivas, um após o outro... Oportunidade para degustar a perdiz frita. Bem marinada tinha ela sido antes, pois estava com sabor marcante. Com o tinto-Dão, caseiro, a acompanhar. E com um branco, também ele genuíno. Forte mas doce. Pelo menos catorze graus mas suaves, como veludo. Vinho trepador … Parente próximo de vinho já licoroso ou da jeropiga caseira, daquela que o Velhão apelidava de “flanela” por ser macia e quente…

Juntos estavam já uns vinte convivas, pelas 19 horas. Então, é a vez dos dois coelhos “à bruxa”, designação que foi discutida e aprovada já enquanto eram comidos… Tinham sido refogados e cozidos em muito vinho, com louro, alecrim, salsa, alho, cebola, tomate, sal e piri-piri. Até aqui, tudo o “trivial” destes pratos, embora a mão e o paladar do mestre continuem a fazer a diferença. Porém, o elemento distintivo e inovador foi um copo de vinagre a diluir, previamente, o sangue dos bichos e a coroar, depois, a mescla fumegante. Ora, perante a necessidade de “registar a patente”, e tendo em conta a prática, no caso culinária, de juntar vinagre ao sangue e meter tudo a cozer na caçarola em barro, por tais motivos se lhe veio a chamar de coelho “à bruxa”. Também em analogia com outros rituais culinários muito tradicionais por aqui – por exemplo, a cozedura do sangue dos porcos acabados de matar com a faca do matador espetada no coração -- em que o sangue do animal escorre em quentes golfadas para dentro de um alguidar de barro, com sal no fundo, onde a mão da dona da casa acabara de desenhar uma cruz, quem sabe se para afugentar os “maus olhados” se as “bruxas”… A seguir, parte desse sangue vai logo a cozer, e à outra parte junta-se vinagre para evitar a coagulação imediata.

No nosso caso, com tais marmanjos à roda do tacho e da mesa, qualquer “bruxa” que se atrevesse a aparecer e a provocar, corria era sérios riscos de também ela ser “comida”… Verdade é que ninguém se impressionou com a designação “obscurantista” do prato e, assim, os coelhos “ à bruxa ” foram devorados por entre sonoras declarações de apreço e outros tantos arrotos !

“Ossos” de porco cozidos… com batata e couve. Sobremesa de fruta e queijo da serra E um Bolo-Rei “peregrino”…

Mandava a tradição que nada se podia perder…da matança dos porcos…

Tinham sido congelados os ossos do espinhaço, a cabeça, o chispe, as orelhas, da porca “glorificada” em Setembro passado. Anos atrás, teriam ido para a salgadeira e recobertos por sal marinho. Ou seja, de uma ou de outra forma lá teriam cinco ou seis meses de “fossilização” – crio-preservativa ou halo-preservativa -- para possibilitar a conveniente maduração das carnes, medulas e nervos adjacentes. Estes elementos associados (digamos assim) devem então aparecer macerados e a despegarem-se voluntariamente do tecido ósseo. A exigirem muita condimentação no acto da culinária. Para que, por esse método, se possam afastar determinados cheiros e sabores e se façam aparecer e prevalecer alguns outros… Os “ossos” são, assim, cozidos em plena infusão de vinho e condimentos vários. A couve e a batata são cozidas à parte, na água onde, imediatamente antes, ferveram os “ossos”. Repartidos pelos pratos dos convivas, depressa foram trincados, chupados, mastigados e engolidos (aqui, à excepção dos ossos propriamente ditos…). Um verdadeiro repasto ! Com sabores de facto ancestrais.

Beiços e queixos luzidios, bocas e gargantas quentes, estômagos (quase) a abarrotar ( e a arrotar…), eis que os convivas já partem para as sobremesas. Fruta da época (tangerinas e peras) e o indispensável queijo da serra. Entretanto, alguém providenciara um bolo-rei meio “peregrino” pois passado vai já um mês desde o Natal e Ano Novo. Por cima, cai finalmente a aguardente de pêra :- uma “infusa” de pêra seca em aguardente vínica durante pelo menos um ano ! Aaah ! Aaah ! ouve-se…

Para o encerramento da época 2005 ( talvez a 1 de Outubro) Vão ser convidados os Veteranos do Futebol Clube do Porto Mais “nuestros hermanos” de Salamanca // Ciudad Rodrigo

Por fim, com a “dificuldade” também ela já tradicional nestas ocasiões (…), lá se falou das perspectivas para a presente época “futebolístico-gastronómico-cultural. Destaque para a decisão em convidar uma equipa de veteranos do Futebol Clube do Porto para o “triangular” de encerramento de época, no caso, para o “ XV Torneio Ibérico em Futebol – Veteranos ”, a organizar em Vila Franca da Beira, provavelmente dia 1 de Outubro. Como tem sido tradição, virá também o misto de Salamanca / Ciudad Rodrigo. A concretizar-se a vinda dos Veteranos do FCP, vamos completar a “quadratura” do nosso desafio :- teremos conseguido trazer, a Vila Franca da Beira, equipas de Veteranos do Boavista, do Benfica, do Sporting e do Porto !

A noite e o convívio continuaram no PARAFINA- BAR

A meia-noite já veio encontrar muitos dos convivas no Parafina-Bar. O “vício” do café é forte. Sobrepôs-se, desta vez, a outros “vícios”… Quem os tem e tem frequentado estes convívios, sabe do que se fala… Por pudor, apenas literário, não se explicitam aqui…

Assim, se encerrou mais uma Assembleia Geral “Comensal” do Núcleo de Veteranos da U D V. Mais um convívio entre Amigos durante o qual chegaram as saudações e os protestos de amizade de alguns dos mais fieis “veteranos”, desta vez impossibilitados de comparecer. Fica para a próxima “velhos “ Amigos !

Tempo ainda para agradecer publicamente, em nome pessoal e do Núcleo, toda a paciência e disponibilidade do António Simões e, sobretudo, da sua esposa, D. ª Iolanda. Ah ! A neta Matilde não “compareceu” no convívio porque, nos seus menos de dois mesitos de vida, resolveu adormecer cedo, com todos os cuidados da mãe, do pai, da tia e dos avós. Pois, Matilde, ficas desde já convidada para a próxima ! …

Jano

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